[Resenha da cobertura XII FAO, Manaus, 2008]
Em obra na qual o equilíbrio entre a sutileza e o vigor é desafio supremo, fica-se na expectativa de melhor desempenho para a segunda récita.
Como já é tradicional no Festival Amazonas de Ópera (FAO) as apresentações das óperas programadas ao longo do evento são, por vezes, intermediadas por concertos líricos. Este é o caso da "Canção da Terra", de Gustav Mahler, levada ao palco neste último dia 19 (após as primeiras apresentações de "Ça ira" e "Ariadne auf Naxos"), e que será reapresentada no dia 23.
Acompanhados pela Amazonas Filarmônica, sob a regência de Luiz Fernando Malheiro, o famoso ciclo de lieder ("canções", em alemão) de Mahler foi materializado pelas vozes da mezzo Denise de Freitas e do tenor Michael Hendrick.
Obra de intensa carga sentimental, sua partitura reserva aos seus intépretes desafios de várias naturezas. Mas a mais proeminente talvez seja o estabelecimento de uma relação de equilíbrio entre a sutileza e o vigor nos mais diferentes níveis e relações, próprios da escritura por contrastes de Mahler. Neste sentido, este equilíbrio é algo que ainda precisa ser concretizado na interação das vozes com a orquestra, que não raro encobriu os cantores, em especial, o tenor na primeira canção ("Das Trinklied vom Jammer der Erde") e a mezzo na quarta ("Von der Schönheit").
Em termos de vozes, não deixou de ser irônico notar que elas tiveram melhor desempenho em seus "registros opostos", isto é, os agudo do tenor Hendrick de fato não se fizeram presente quando eles foram exigidos, e o grave da mezzo Denise foi justamente a região na qual sua voz tornou-se quase inaudita. Por outro lado, é notável o desempenho e a beleza da voz da cantora nas passagens agudas da peça.
Mas os problemas não se limitaram às vozes, e mesmo parte do efetivo orquestral terá o que trabalhar para a próxima récita da obra, em especial os instrumentos de sopros madeiras, que à parte seus regulares desempenhos enquanto solistas, como conjunto ainda buscam a afinação adequada. Mas como o mundo é feito de contrapartidas, foi notável a qualidade sonora dos naipes de cordas, em especial os violinos, com um timbre bonito e coeso.
Nenhum comentário:
Postar um comentário