18 maio 2007

Modernidade claudicante

Em meio às encenações do XI FAO vários concertos líricos e outras formas de espetáculo foram programados ao longo de suas semanas, em parte para cobrir os buracos ocasionados pelo corte de verbas.

Sábado passado foi levado ao palco um espetáculo com o Corpo de Dança do Amazonas, acompanhado por um grupo de câmara extraído da Amazonas Filarmônica, regida por Marcelo de Jesus. No evento foram apresentadas as coreografias “Sem Palavras”, assinada por Adriana Góes e André Duarte, e “A Sagração da Primavera”, de Marcos Mariz. Os bailarinos dançaram ao som de dois marcos da música do século XX, respectivamente “Música para cordas, percussão e celesta”, do compositor húngaro Béla Bartók, e a “A Sagração da Primavera”, do compositor russo Igor Stravínski.

Apesar do peso dessas obras, o espetáculo em si não empogou. Do lado musical, o grande entrave foi o redimensionamento das versões originais das peças, tendo em vista que ambas foram originamente compostas para grandes grupos instrumentais (algo improvável no exígüo espaço do fosso do Teatro Amazonas). Na peça de Bartók o problema foi a ausência de um maciço naipe de cordas, o que evidenciou desencontros e mesmo desafinações entre estes instrumentos. Já com a “Sagração” fez falta uma transcrição mais ousada do colossal efetivo orquestral previsto no manuscrito, mesmo tendo em vista as reduzidas dimensões instrumentais previstas para o espetáculo. De uma maneira geral, foi de estranhar a falta de viço e energia em peças que são naturalmente explosivas.

Apesar de ter sido originalmente concebida como um balé – e por isto contendo um discurso narrativo bem delineado – a coreografia da “Sagração” investiu justamente na dissociação da ação coreográfica com o programatismo da música. Por outro lado, a coreografia de “Sem palavras” muitas vezes frisou a dissociação cinético-sonora entre os elementos, o que em si não é um problema. Mas aliada à ausência de um fio narrativo mínimo, a coreografia, bem como todo espetáculo, surge apenas como um adereço que poderia ser melhor trabalhado, para de fato congregar-se com sua audiência.

[Este texto é a versão do autor para o artigo semelhante publicado originalmente na Gazeta Mercantil. Versão sem cortes, sem edição e sem revisão!!!]

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