Apenas nos últimos anos você tem se apresentado com mais freqüência nos palcos brasileiros, especialmente aqui,
Em primeiro lugar, o trabalho de ópera dever ser sempre o mesmo, não importa o lugar. Os papéis que eu canto e minha dedicação não mudam, não importando se estou em Munique, Viena ou Manaus. Lógico, cada país, cada cidade tem suas peculiaridades, com suas vantagens e desvatagens. Mas o imporante é que gosto muito de viajar, de forma que nunca estranho as diferenças.
Você começou sua carreira enquanto uma soprano lírica coloratura, tendo posteriormente passado para o lírico e spinto. Como é vivenciar estas diversas fases de sua voz e corpo?
Isto é algo que freqüentemente ocorre com os cantores. Eu, por exemplo, começei com uma voz muito aguda, e com o transcorrer dos anos ela passou por mudança muito grande. Mas isto é coisa não se faz, simplesmente acontece. Por isto o cantor tem que adaptar seu repertório à sua voz, e não o contrário. Hoje, por exemplo, me dedico a um repertório diferente daquele de quando tinha vinte anos.
Na ópera “Lady Macbeth” você desenvolve uma personagem cujo texto é cantado
Quando cheguei na Alemanha cheguei a cantar algumas canções neste idioma, mas não cheguei a me aprofundar em seu estudo. Eu sempre quis voltar a estudar russo, devido principalmente ao maravilhoso repertório que existe e que eu sempre quis cantar. Como nunca gostei de cantar o que não entendo, nunca me dediquei a ele. Mas já faz um ano que voltei a estudar russo, ao mesmo tempo em que entrava em contato com a personagem da ópera. Agora não vejo a hora de poder cantar uma série de músicas e compositores que sempre admirei.
Eu a considero uma personagem bem complexa. Shostakóvitch quis dar a ela um lado humano que não tinha no romance original de Nikolai Leskov, que deu origem à ópera. Isto, de fato, complica tudo, pois o compositor escreve momentos lindíssimos para Katerina, o que de certa forma faz com que, na ópera, a personagem não haja por maldade. É interessante, pois não aprece isto na ópera, onde é tratada como vítima. Mas ela não é necessariamente uma, pois ela assassina o sogro e o marido. Ela rouba suas fortunas e projeta um romantismo num homem que ela sabe que é mau, que momentos antes estuprou sua colega. Mas, por outro lado, ela tem um comportamento animal, de uma mulher que está totalmente e sexualmente frustrada. Eu quis botar estes momentos de desiquilíbrido de forma muito discreta em minha atuação, e foi assim que eu construi minha personagem, a minha Katerina.
Crédito da foto: Marcio James
[Este texto é a versão do autor para o artigo semelhante publicado originalmente na Gazeta Mercantil. Versão sem cortes, sem edição e sem revisão!!!]
Um comentário:
Meus parabens pelo belissimo blog, onde eu li com satisfação os seus posts. Espero voltar sempre a ele.
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