15 novembro 2006

Ratos num jogo de espelho

Impressões sobre quase tudo com quase nada:
Cinema -
"Os Infiltrados"

É como numa grande tragédia. Personagens de caracteres diferentes, mas que agem de forma muito semelhante, ainda que por seus avessos. O mocinho espanca e tortura. O vilão age apenas por telefonemas e conversas. Colocados defronte ao espelho não dá pra saber quem é quem, e perde-se mesmo a noção de que lado do espelho se está. Daí nasce a angústia, as confusões, os conflitos. Mas, no íntimo, todos sabem a que lado pertencem. Ratos são ratos, e como tais não conhecem a moral e as regras de boa vizinhança humanas. Fazem o que devem ser feito, fazem aquilo que está em seu sangue. Róem e consomem tudo e a todos em seu caminho. Seja do lado da lei, seja do lado do crime, sua função é indiferente aos propósitos que servem. Num filme trágico, a morte torna-se essencial, e muitas vezes, banal. Mas o canibalismo final - ainda que envolva apenas ratos devorando-se mutuamente - é chocante, terrível, necessário e grandioso, e por tudo isto, belo.

["Os Infiltrados"
/"The Departed", dirigido por Martin Scorsese, com Jack Nicholson, Matt Damon, Leonardo di Caprio e Mark Walhberg]

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