14 dezembro 2007

A aventura por novos sons, do passado e do presente

Com concerto que uniu a "música nova" de duas épocas diferentes, a Osesp encerra sua temporada 2007.

Foi uma ocasião rara, na qual, num mesmo concerto, o moderno e o tradicional foram postos lado a lado. Não como elementos antagônicos, mas sim como diferentes manifestações da vontade artística de propor coisas novas.

Em seu concerto de encerramento desta temporada a Osesp optou por reunir a "música nova" de diferentes época, estreando a obra "Crase", do brasileiro Flo Menezes, e levando mais uma vez ao palco a aclamada "Sinfonia No. 9", de Ludwig van Beethoven (cuja aceitação junto ao público brasileiro já foi alvo de uma matéria anterior deste blog).

Encomendada pela Osesp, com "Crase" a orquestra entra pela primeira vez no repertório nacional estilisticamente moderno, que de uma maneira geral, constitui um terreno sobre o qual o grupo ainda tateia (apesar de já proporcionado ótimos momentos com grandes "clássicos" do gênero, como Berio, Messiaen e Ligeti).

Na peça, Flo Menezes continua a desenvolver a poética sob a qual há tempos se debruça, trabalhando de forma intensa a dimensão espacial do som (dispondo músicos e alto-falantes em torno da sala de espetáculos) e a fusão entre sons acústicos e eletroacústico. O resultado foi uma obra trimbricamente bela, fluída, cuja a fruição só pode ser plena desde que imbuído da vontade de se deparar com o novo (como diria John Cage, num trocadinho intraduzível, "happy new ears!").

Em um contexto como este - precendendo uma obra com um apelo tão popular, tal como é o caso da "Nona" - um certo estranhamento por parte do público é mais do que esperado e natural. Mas não foi surpreendente constatar nos cafés, banheiros e lojinhas da Sala São Paulo a boa recepção que a música nova sempre pode ter, desde que corretamente e profissionalmente interpretada.

Neste quesito, palmas à regência de Victor Hugo Toro, regente assistente da Osesp, responsável por trazer à luz mais uma nova música nova.

Quando na segunda parte o titular John Neschling subiu ao palco para conduzir a "Nona", ocorreu aquilo que se espera de uma obra desta magnitude, interpretada por uma orquestra competente (apesar de alguns probleminhas aqui e acolá). Senso comum, a "Nona" é uma obra que, por mais que se ouça, sempre há algo novo a descobrir, desde que se queria ouví-la como música nova. As pessoas se emocionam. As pessoas choram. E assim as coisas caminham.

Happy new year and happy new ears. Every day.

Um comentário:

matheus disse...

http://www.youtube.com/watch?v=gfhDfPYvloc