Com ingressos esgotados há várias semanas, o violoncelista Yo-Yo Ma chega na semana que vem para realizar
Desde que esta categoria de músicos passou a desenvolver uma relação mais íntima com a indústria fonográfica – bem como com o mass media em geral – muitos deles conseguiram obter projeção e notoriedade similares às dos pop-star. Foi assim, por exemplo, com o “über” maestro Herbert von Karajan, com o pianista Glenn Gould e com os “três tenores” Plácido Domingo, José Carreras e Luciano Pavarotti. Mais do que músicos, essas figuras se tornaram celebridades cuja fama ainda hoje extravasa o âmbito clássico, contando com diversas aparições na televisão, livros, cinema e uma infinidade de outros tipos de produtos e espetáculos.
No micro-cosmos do violoncelo, Yo-Yo Ma é atualmente a ponta de uma corrente que começa com Pablo Casals (um dos primeiros a se projetar mundialmente por meio de gravações) e que no momento passa por uma era de transição, devido a morte de Mstisláv Rostropóvitch em abril passado. Apesar da grande excelência e notoriedade de muitos violoncelistas contemporâneos – tais como Antonio Meneses, Mischa Maisky e a finada Jacqueline du Pré – a fama de Ma supera às dos demais não por uma questão de talento ou competência, mas sim pelo direcionamento que ele deu a sua carreira e repertório.
Uma das características mais marcantes da trajetória de Yo-Yo Ma é sua aproximação com as linguagens musicais da cultura popular, em especial a exploração ritmos regionais populares e o cinema, fatores que conferem uma coloração miscigenada à sua música.
Apesar da maior parte da vultuosa discografia da Ma estar dedicada ao repertório clássico tradicional – que desde 1983 já acumula pouco mais de uma centena de títulos – seus maiores sucessos fonográficos correspondem, no entanto, aos álbuns nos quais ele flerta com a música popular.
Em discos como “Appalachia Waltz” (1996), “Soul of the Tango” (1997) e “Obrigado Brazil” (de 2003, que no ano seguinte ganhou uma versão ao vivo) Ma realiza por meio da linguagem clássica aproximações com certos estereótipos musicais das tradições populares norte-americanas, argentinas e brasileiras, respectivamente. Este tipo de abordagem estilística é conhecida como crossover e tem sido cada vez mais valorizada pelo grande público, apesar de não raro dela resultar um produto de senso estético e musical um tanto duvidoso.
Entrantob, foi pelas telas do cinema que o nome do Ma difundiu-se mundialmente e rompeu não apenas as fronteiras do território clássico, mas bem como da própria música. Vários blockbusters tiveram Ma à frente da performance musical de suas trilhas sonoras originais, tais como “Sete Anos no Tibet” (1997), “O Tigre e o Dragão” (2000) e “Memórias de uma Gueixa” (2005), entre outros. Além disso, Ma é queridinho de Hollywood quando o assunto é um violoncelo enquanto música incidental (isto é, não composta especialmente para filme).
A parceria de Ma com a música de cinema teve como produto um especial álbum totalmente dedicado ao Ennio Morricone (autor de trilhas como “Os Intocáveis”, “Cinema Paradiso” e “Era uma vez na América”) no qual o próprio compositor realizou arranjos escritos especialmente para Ma. Além de Morricone, o violoncelista gravou também um álbum dedicado a John Williams, outro gigante das trilhas sonoras autor de clássicos como “Tubarão”, “Guerra nas Estrelas” e “A Lista de Schindler”.
Mas nada disso seria suficiente não fosse o fato de Ma ter desenvolvido sua carreira nos EUA, terra onde o mercado clássico encontra processos e níveis de profissionalização comparáveis ao da indústria pop. Apesar de nascido em Paris, em meio a uma tradicional família de músicos clássicos emigrados da China, a América foi a pátria onde Ma se naturalizou e encontrou o ambiente que, por fim, propiciou sua ascensão de músico à cidadão do mundo (com direito ao título de Embaixador da Paz da ONU). Na mídia norte-americana Ma pode ser encontrado em situações tão heterogêneas quanto seu estilo musical, tais como a festa do Oscar, os encontros anuais da gigante tecnológica Apple, na abertura dos Jogos Olímpicos de Inverno ou num duo com a secretária estado Condoleezza Rice.
Apesar de sua diversidade estilística, Ma programou para seus recitais no Brasil um repertório tradicional, no qual consta a célebre “Sonata Arpeggione”, de Franz Schubert, além de obras de Dmítri Shostakóvitch e César Franck. Apenas “Bodas de prata” e “Quatro cantos”, compostas pelo brasileiro Egberto Gismonti, representam a faceta eclética que tanto tem marcado a imagem de Ma. No mais, deverá ser o bis a ocasião na qual Ma mostrará seu lado mais popular, e a julgar pelo frenesi que antecede sua aparição, é bom ele caprichar na quantidade de breu a passar no arco de seu violoncelo.
Serviço:
Recitais de Yo-Yo Ma (violoncelo), acompanhado por Kathryn Stott (piano)
> São Paulo: dia 18 de junho, 21h, Congregação Israelita Paulista e 19 e 20 de junho, 21h, Teatro Cultura Artística (todos com ingressos esgotados).
> Rio de Janeiro: 22 de junho, Theatro Municipal do Rio de Janeiro (ingressos esgotados).
[Este texto é a versão do autor para o artigo semelhante publicado originalmente na Gazeta Mercantil. Versão sem cortes, sem edição e sem revisão!!!]
Um comentário:
eu adoro yo yo ma. eu falei do espetáculo luar trovado no meu blog. beijos, pedrita
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