Passado 178 anos desde sua morte, mesmo nos dias de hoje, é ainda difícil avaliar a real amplitude da obra de Ludwig van Beethoven (1770-1827). Nascido na cidade alemã de Bonn, Beethoven aprendeu composição com grandes nomes do período clássico, tais como Joseph Haydn (1732-1809) e Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791). Nos manuais de história da música, Beethoven é considerado um compositor de transição entre os períodos Clássico e Romântico (aproximadamente, concernentes aos séculos XVIII e XIX, respectivamente). Porém, a importância de sua obra jamais se limitou a uma mera “ponte” entre duas formas de compor.
Praticamente desde sua morte, a música de Beethoven passou a ser importante referência para compositores das mais diferentes épocas e estilos. Franz Schubert tinha Beethoven quase como um deus. Richard Wagner credita às suas sinfonias toda sua base musical e moderno Arnold Schoenberg elabora uma consistente lista dos aprendizados que tirou dos estudos de suas peças. Mesmo na babel musical da era contemporânea, não é muito difícil detectar ecos do grande mestre alemão.
Beethoven é um dos raros exemplos da história da música (se não o único) em que praticamente toda sua produção é canônica, isto é, parte integrante e inexorável do seleto rol de obras primas sobre o qual está construída a noção de tradição, noção que há séculos têm levado o homem às salas de concerto e teatros ao redor do mundo.
A importância conferida às obras de Beethoven as tornam obrigatórias no repertório de qualquer músico ou conjunto. Nenhum pianista conquista credibilidade sem ter encarado ao menos uma boa parte de suas 32 sonatas (e não são raros aqueles que se dedicam a enfrentar todas). Nenhum quarteto de cordas pode-se considerar maduro sem ter vivenciado a verdadeira teia estilística das obras que escreveu para esta formação. Nenhuma boa orquestra pode se considerar como tal sem ter percorrido todo o ciclo das nove sinfonias.


De uma forma geral, os CDs lançados até agora abordam uma faceta pouco conhecida – mas nem por isto desinteressante – da obra sinfônica de Beethoven ao selecionar para dois CDs quatro de suas sinfonias menos populares (isto é, as Nos. 1, 2, 4 e 8) e duas aberturas orquestrais (“Egmont” e “Coriolano”), todas estas regidas por John Neschling entre os anos de 2000 e 2004. A exceção fica por conta do CD dedicado à aclamada “Nona Sinfonia”, gravado em 2004 sob a regência de Roberto Minczuk. Todas as faixas do CDs são combinações de diferentes apresentações realizadas ao vivo na sede da orquestra, a Sala São Paulo.

Esta falta de apelo internacional demonstra-se consciente à própria Osesp na medida em que os CDs de Beethoven serão lançados apenas nacionalmente, ao contrário de outros seis, totalmente dedicados a compositores brasileiros – isto é, Villa-Lobos, Francisco Braga, Francisco Mignone e Camargo Guarnieri – que foram produzidos e lançados nacionalmente e internacionalmente pelo selo sueco Bis, estes sim contribuições singulares à música brasileira e clássica como um todo.
Porém, se você estiver montando uma discoteca básica (na qual as sinfonias de Beethoven não podem faltar) os CDs da Osesp são uma alternativa boa e barata. Um primeiro, porém certeiro passo para o universo sinfônico beethoviano que pode inclusive ser conferido ao vivo nos dois próximos fins-de-semana, quando a orquestra, sob a regência de Neschling, interpretará as sinfonias Nos. 5, 6, e 7 e a abertura “A Consagração da Casa”. Estes concertos que serão gravados e fazem parte do projeto que tem por objetivo o ciclo integral das sinfonias de Beethoven, também a ser lançado pela Biscoito Fino. Um programa imperdível, na medida em que ouvir Beethoven nunca é demais.
[Publicado originalmente na Gazeta Mercantil. Versão sem cortes, sem edição, sem revisão!]