15 junho 2007

A chegada do violoncelista pop-star

Yo-Yo Ma é a atração de concorridas apresentações em São Paulo e no Rio.

Com ingressos esgotados há várias semanas, o violoncelista Yo-Yo Ma chega na semana que vem para realizar em São Paulo e no Rio de Janeiro um total de quatro apresentações. Além de encher com boa música os ouvidos dos privilegiados (e uns poucos sortudos) que conseguirem um dos disputados lugar de seus recitais, a vinda de Ma ao Brasil promete também preencher as colunas sociais com fatos e fotos ocorridos nas ante-salas dos teatros. Tudo isto se deve ao fato de Ma ser um dos músicos clássicos vivos de maior projeção internacional da atualidade.

Desde que esta categoria de músicos passou a desenvolver uma relação mais íntima com a indústria fonográfica – bem como com o mass media em geral – muitos deles conseguiram obter projeção e notoriedade similares às dos pop-star. Foi assim, por exemplo, com o “über” maestro Herbert von Karajan, com o pianista Glenn Gould e com os “três tenores” Plácido Domingo, José Carreras e Luciano Pavarotti. Mais do que músicos, essas figuras se tornaram celebridades cuja fama ainda hoje extravasa o âmbito clássico, contando com diversas aparições na televisão, livros, cinema e uma infinidade de outros tipos de produtos e espetáculos.

No micro-cosmos do violoncelo, Yo-Yo Ma é atualmente a ponta de uma corrente que começa com Pablo Casals (um dos primeiros a se projetar mundialmente por meio de gravações) e que no momento passa por uma era de transição, devido a morte de Mstisláv Rostropóvitch em abril passado. Apesar da grande excelência e notoriedade de muitos violoncelistas contemporâneos – tais como Antonio Meneses, Mischa Maisky e a finada Jacqueline du Pré – a fama de Ma supera às dos demais não por uma questão de talento ou competência, mas sim pelo direcionamento que ele deu a sua carreira e repertório.

Uma das características mais marcantes da trajetória de Yo-Yo Ma é sua aproximação com as linguagens musicais da cultura popular, em especial a exploração ritmos regionais populares e o cinema, fatores que conferem uma coloração miscigenada à sua música.

Apesar da maior parte da vultuosa discografia da Ma estar dedicada ao repertório clássico tradicional – que desde 1983 já acumula pouco mais de uma centena de títulos – seus maiores sucessos fonográficos correspondem, no entanto, aos álbuns nos quais ele flerta com a música popular.

Em discos como Appalachia Waltz” (1996), Soul of the Tango” (1997) e “Obrigado Brazil” (de 2003, que no ano seguinte ganhou uma versão ao vivo) Ma realiza por meio da linguagem clássica aproximações com certos estereótipos musicais das tradições populares norte-americanas, argentinas e brasileiras, respectivamente. Este tipo de abordagem estilística é conhecida como crossover e tem sido cada vez mais valorizada pelo grande público, apesar de não raro dela resultar um produto de senso estético e musical um tanto duvidoso.

Entrantob, foi pelas telas do cinema que o nome do Ma difundiu-se mundialmente e rompeu não apenas as fronteiras do território clássico, mas bem como da própria música. Vários blockbusters tiveram Ma à frente da performance musical de suas trilhas sonoras originais, tais como “Sete Anos no Tibet” (1997), “O Tigre e o Dragão” (2000) e “Memórias de uma Gueixa” (2005), entre outros. Além disso, Ma é queridinho de Hollywood quando o assunto é um violoncelo enquanto música incidental (isto é, não composta especialmente para filme).

A parceria de Ma com a música de cinema teve como produto um especial álbum totalmente dedicado ao Ennio Morricone (autor de trilhas como “Os Intocáveis”, “Cinema Paradiso” e “Era uma vez na América”) no qual o próprio compositor realizou arranjos escritos especialmente para Ma. Além de Morricone, o violoncelista gravou também um álbum dedicado a John Williams, outro gigante das trilhas sonoras autor de clássicos como “Tubarão”, “Guerra nas Estrelas” e “A Lista de Schindler”.

Mas nada disso seria suficiente não fosse o fato de Ma ter desenvolvido sua carreira nos EUA, terra onde o mercado clássico encontra processos e níveis de profissionalização comparáveis ao da indústria pop. Apesar de nascido em Paris, em meio a uma tradicional família de músicos clássicos emigrados da China, a América foi a pátria onde Ma se naturalizou e encontrou o ambiente que, por fim, propiciou sua ascensão de músico à cidadão do mundo (com direito ao título de Embaixador da Paz da ONU). Na mídia norte-americana Ma pode ser encontrado em situações tão heterogêneas quanto seu estilo musical, tais como a festa do Oscar, os encontros anuais da gigante tecnológica Apple, na abertura dos Jogos Olímpicos de Inverno ou num duo com a secretária estado Condoleezza Rice.

Apesar de sua diversidade estilística, Ma programou para seus recitais no Brasil um repertório tradicional, no qual consta a célebre “Sonata Arpeggione”, de Franz Schubert, além de obras de Dmítri Shostakóvitch e César Franck. Apenas “Bodas de prata” e “Quatro cantos”, compostas pelo brasileiro Egberto Gismonti, representam a faceta eclética que tanto tem marcado a imagem de Ma. No mais, deverá ser o bis a ocasião na qual Ma mostrará seu lado mais popular, e a julgar pelo frenesi que antecede sua aparição, é bom ele caprichar na quantidade de breu a passar no arco de seu violoncelo.

Serviço:
Recitais de Yo-Yo Ma (violoncelo), acompanhado por Kathryn Stott (piano)
> São Paulo: dia 18 de junho, 21h, Congregação Israelita Paulista e 19 e 20 de junho, 21h, Teatro Cultura Artística (todos com ingressos esgotados).
> Rio de Janeiro: 22 de junho, Theatro Municipal do Rio de Janeiro (ingressos esgotados).

[Este texto é a versão do autor para o artigo semelhante publicado originalmente na Gazeta Mercantil. Versão sem cortes, sem edição e sem revisão!!!]

Um comentário:

Anônimo disse...

eu adoro yo yo ma. eu falei do espetáculo luar trovado no meu blog. beijos, pedrita