22 julho 2008

Gente nova, música nova

Está no ar no site da Revista Concerto o texto "Gente nova, música nova", sobre o sucesso de jovens compositores brasileiros que, para ouví-los, você vai ter que pegar um vôo internacional. Acesse: www.concerto.com.br

Ilustração: detalhe da partitura "In Harmonica", de Sergio Kafejian.

03 julho 2008

São Pedro entre ianques e soviéticos

Óperas de Gershwin e Shostakóvitch ganham o palco do charmoso teatro paulistano

Semana passada foi apresentada no Theatro São Pedro (TSP) uma interessante montagem da famosa folk-opera de George Gershwin, “Porgy and Bess”, e a partir de amanhã seu palco cederá lugar para seu “antípoda” soviético, a ópera "Moscou, Tcheryomushki" de Dmitri Shostákovitch.

Mas na verdade os antagonismos são apenas superficiais, pois ambos compositores tinham a preocupação social – para não falarmos de engajamento ideológico – presentes em suas poéticas musicais. Cada qual ao seu modo, o que une estas duas óperas de estéticas e países tão distintos é a crítica às estruturas da sociedade por meio de um pequeno retrato de seu cotidiano.

A montagem de “Porgy and Bess” mostrou como com dedicação e competência é possível fazer espetáculos operísticos interessantes a baixos custos. Sob a direção musical do jovem compositor e arranjador Felipe Sena, a partitura orquestral foi transcrita para uma formação de câmara, que se mostrou muito eficiente para as dimensões do TSP. Confortável com swing popular e habilidoso com o rigor da partitura escrita, a regência de Sena potencializou a pluralidade estilística inerente à partitura.

O elenco vocal desta produção alternou entre a fragilidade técnica de parte dos papéis coadjuvantes e a excelência dos protagonistas. José Gallisa e Edna D’Oliveira foram incontestáveis enquanto casal protagonista, no qual se destaca o trabalho corporal do Gallisa de forma a conferir verossimilhança ao aleijado Porgy. Porém, é de se notar o fundamental trabalho realizado por Ednéia de Oliveira (Serena) e de David Marcondes na pele do sexualmente agressivo Crown.

Sob a direção cênica de João Malatian, este “Pockt-Porgy and Bess” foi muito bem sucedido em sua parte cênica, que contou ainda o inventivo cenário de Renato Theobaldo e Roberto Cardoso, que com seus caixotes de frutas, tão típico em nossos mercadões, concedeu ares paulistanos à América sulista.

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Enquanto isto, a um oceano de distância e nos gélidos ares russos, Shostákovitch dava vazão à sua crítica à hipocrisia e ao cinismo das autoridades soviéticas na ópera "Moscou, Tcheryomushki", ambientada numa cidade “ideal”, muito comuns durante o regime, mas cuja solidez de sua sociedade se assemelhava às de um cenário de ópera. O Núcleo Universitário de Ópera, que sob a direção de Paulo Maron ficou conhecido em nossa cidade pelas operetas de Gilbert e Sullivan, irá mudar de ares de forma radical, fazendo toda a parte vocal no original em russo. O simpático cartum ao lado - com Shostákovitch passeando com seu Lada em Tcheryomushki - integra a divulgação desta montagem que vale conferir.

Foto de "Porgy & Bess": Rachel Guedes