Toda diva tem uma curiosa história de vida, mais ou menos picante, trágica ou simplesmente curiosa. A história da soprano russa Anna Netrebko não poderia ser mais improvável: antes de pisar no palco do teatro onde canta, a soprano passou muitas horas esfregando seus corredores e escadarias, nos tempos em que era uma simples faxineira do Teatro Mariinski, de São Petesburgo.
Mas, como toda a diva, Netrebko tem uma legião de fãs espalhados pelo mundo, sempre a cultuar a sua voz, bem como sua beleza física. Como toda diva, Netrebko tem também uma tropa de contestadores, que não se deixando amolecer por seu lânguido olhar que estampa seus CDs ou por sua comovente condição de gata borralheira, colocam alguns “poréns” a propósito de seu canto (“mais balança do que canta”, “sua pronúncia no italiano não é lá grandes coisas”, etc.).
Não importa. Diva alguma é unanimidade, e como toda diva ela vende, e muito. Freqüentemente todo um repertório passa a ser associado a esta diva, e com Netrebko não parece não ser diferente a partir de seu mais recente lançamento “Russian album”, no qual a interpreta árias e canções com textos originalmente escritos em russo, acompanhada pela Orquestra do Teatro Mariinski (aquele mesmo onde trabalhou com outro tipo de papel), regido pelo maestro Valery Gergiev.
Detentora de uma exuberância musical que dispensa maiores explicações, a recepção da música russa no ocidente sempre foi muito limitada no âmbito vocal. Enquanto que as sinfonias de Tchaikóvski, as sonatas de Prokófiev, os concertos de Rachmáninov e os balés de Stravínski gozam de ampla popularidade, a prática ocidental da música vocal russa sempre esbarrava no problema do idioma.
Apesar dos cantores líricos de qualquer nacionalidade (seja como solista, seja como coralista) estarem acostumados a cantar nos mais diferentes idiomas – tais como o latim, alemão, italiano, inglês e o francês – cantar em russo está longe de ser uma trivialidade.
Desta forma, o “Russian album” que Netrebko estrela interessa não apenas a seus fãs, mas aos admiradores da música vocal e da música russa como um todo. Nesta amostragem do canto em cirílico (nome do todo próprio alfabeto russo) as pequenas canções contidas no álbum são apenas um pequeno aperitivo do que realmente arrebata no repertório escolhido.
De todo o conjunto, são as árias das grandes óperas russas do Romantismo o que mais chamam atenção nesta bela seleção musical. Vide, por exemplo, a melancólica passagem extraída de “A noiva do Tsar” de Glinka, ou a belíssima cena da carta da ópera “Eugene Onegin”, de Tchaikóvski.
E, é claro, não deixe de ouvir a cena extraída da ópera “Guerra e Paz”, de Prokófiev, na qual Netrebko reserva uma bela interpretação de Natasha, a célebre heroína da obra máxima de Tolstói. Tudo indica, a Natasha de Netrebko poderá ser em breve conferida em DVD numa montagem a ser filmada no mesmo teatro em que a diva russa costumava se ajoelhar para lavar o chão da audiência que, hoje, ajoelha-se aos seus pés.
Leia abaixo a entrevista concedida por Anna Netrebko.
Serviço: “Russian album”, Anna Netrebko (soprano), Valery Gergiev (regente) e Orquestra do Teatro Mariinski. Deutsche Grammophon, aprox. 64 min., R$ 40 (nacional).
[Publicado originalmente na Gazeta Mercantil. Versão sem cortes, sem edição, sem revisão!]
2 comentários:
ótima dica. beijos, pedrita
Anna Netrebko possui uma beleza requintada!Que mulher linda!
Luiz Henrique França
Blumenau-SC
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