24 março 2007

Clássicos pelo Brasil

Uma pequena análise da temporada 2007

Apesar de março ser o mês no qual oficialmente se inicia a temporada clássica brasileira, é mesmo a partir de abril que a coisa começa a esquentar nas salas de concertos do país. E a coisa promete mesmo esquentar: para este ano a platéia da música concerto será brindada com uma grande diversidade de repertórios e com formações musicais dos mais diferentes estilos e países.

Apesar de a maior parte dessas atrações estarem concentradas no Rio de Janeiro e em São Paulo quem estiver em outras partes no Brasil não ficará desamparado de música. Basta ficar de olho na programação cultural, que nem sempre são divulgadas com a antecedência necessária.

A megalópole sinfônica

A aglomeração urbana entre Rio e São Paulo é mesmo oásis da música sinfônica brasileira. Apesar das temporadas e dos concertos esporádicos existentes em outras capitais brasileiras – tais como Manaus, Belém, Aracaju e Belo Horizonte, entre outras – é mesmo na megalópole do Sudeste onde se pode encontrar de forma mais regular concertos de ótima qualidade artística e repertório variado.

No Rio a cena sinfônica tem suas atenções divididas entre a Orquestra Sinfônica Brasileira (OSB), dirigida por Roberto Minczuk, e a Orquestra Petrobrás Sinfônica (OPS), dirigida por Isaac Karabtchevsky. Cada qual com uma atração diversificada, as orquestras cariocas, entretanto, trilham caminhos diversos. A OPS aposta muitas de suas fichas em Beethoven, que ganhou nada menos que cinco programas exclusivos.

Por sua vez, a OSB investe na excelência de seu regente e em convidados de renome na cena clássica, tais como o maestro Kurt Masur, o violinista Pinchas Zukerman, o pianista Nelson Freire e a soprano Eliane Coelho. Isto não quer dizer que a OPS não tenha seus convidados de peso: entre as atrações mais aguardadas está o retorno do compositor e maestro polonês Krzystof Penderecki, que conduzirá seu “Réquiem Polonês”.

Em São Paulo todas atenção acabam naturalmente voltadas para a Sala São Paulo e a orquestra que ela abriga, a Osesp (Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo). Dirigida por John Neschling, mais uma vez ela proporcionará a sua audiência uma programação diversificada assim que ela retornar de sua turnê pela Europa, contando ainda com a presença maciça de maestros e solistas convidados que valem a pena serem conferidos.

Porém, o mundo sinfônico paulista não se limita a Osesp, existindo várias opções interessantes fora dos domínios de John Neschling. O Theatro Municipal volta à ativa após a interrupção de sua reforma, ainda sem prazo para ser retomada. Os conjuntos orquestrais da cidade (a Orquestra Sinfônica Municipal e a Orquestra Experimental de Repertório) ocuparão com regularidade o palco do teatro, dividindo-se entre produções sinfônicas e operísticas. Além delas, vale a pena destacar o trabalho eclético que a Banda Sinfônica do Estado de São Paulo e a Orquestra Jazz Sinfônica vêm desenvolvendo nos últimos anos, constituindo alternativas estilísticas importantes dentro da tradição clássica.

Ópera ao Norte!

Apesar de todo o peso do Sudeste na cultura musical clássica brasileira, mais uma vez é da região Norte do país de onde vêm as atrações mais instigantes em termos de ópera. E mais uma vez é Manaus, agora na décima primeira edição do Festival Amazonas de Ópera (FAO), que conduz o movimento da ópera amazônica, tendo em vista que a cena lírica do Pará passa atualmente por um profundo processo de reestruturação iniciada com a mudança do governo estadual, ocorrida no começo do ano.

Apesar do dramático corte de verbas que o FAO sofreu este ano ele mantém-se vivo e com uma programação interessantíssima. O grande destaque deste ano é o que possivelmente se trata da primeira encenação brasileira da ópera “Lady Macbeth do Distrito de Mtzensk”, de Shostakóvitch, que será conduzido pelo maestro Luiz Fernando Malheiro (também diretor do FAO).

Apesar de sua importância em âmbito nacional e de sua projeção no cenário internacional, o FAO parece ainda não receber das autoridades locais a atenção devida. Tal se deve não apenas pelos significativos cortes de verbas que o evento passsou, mas também pela ausência de uma infra-estrutura profissional de vendas de ingressos e da inexistência de uma política de turismo cultural (nacional e internacional) que poderia ser agregada ao evento.

Música ad infinitum

Muita música que irá acontecer pelo país, pois mesmo para quem está fora da megalópole do Sudeste há, ainda que de forma esporádica, algumas atrações musicalmente relevantes e a preços acessíveis. A exemplo do que ocorreu nos últimos anos, a Funarte promete também para este ano mais uma edição do projeto Circulação de Música de Concerto, que financia espetáculos clássicos em regiões e cidades onde este tipo de prática ainda não se realiza de forma constante. As redes Sesc e Sesi vez o outra promovem eventos em todo o país que também merecem ser observados pelos amantes da música de concerto. Pode ainda não ser o suficiente, mas quem sabe não é a semente de algo possa crescer e nutrir os devaneios artísticos de gerações futuras?

Fotos: 1) Theatro Municipal do Rio de Janeiro; 2) Sala São Paulo e 3) Teatro Amazonas.

DESTAQUES DA TEMPORADA BRASILEIRA 2007

Rio de Janeiro:

Orquestra Petrobrás Sinfônica (OPS)

- Abril: Festival Villa-Lobos (“Choros No. 10” e “A Floresta do Amazonas”). Isaac Karabtchevsky (reg.).
-
Julho: “Réquiem Polonês”, de Krzystof Penderecki (regido pelo próprio compositor).

- Setembro: Karabtchevsky rege a “Sinfonia No. 6”, de Mahler.

- Outubro: com regência de Daisuke Soga, obras de Saint-Säens e Bartók, com solos do violinista David Garret.

Orquestra Sinfônica Brasileira (OSB)

- Abril: Roberto Minczuk rege obras de Strauss, Wagner, Siqueira e Carrilho, com solos do violonista Yamandú Costa.

- Maio: Kurt Masur rege obras de Wagner, Schuber e Dvorák.

- Julho: A soprano Eliane Coelho canta Strauss, Wagner e Duparc, com a OSB regida por Ronald Zollman.

- Setembro: concerto comemorativo aos 50 anos do violoncelista brasileiro Antonio Meneses, que solará os concertos de Dvorák e Krieger, sob a regência de Roberto Minczuk.

São Paulo:

Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (OSESP)

- Junho: “Romeu e Julieta”, de Berlioz, regido por Yoram David.

- Agosto: “Messa di Gloria”, de Puccini, e o dificílimo “Concerto para Violino e Orquestra”, de Ligeti, com solos de Isabelle Faust, com a OSESP regida por John Neschling.

- Outubro: o raríssimo “Concerto” de Busoni será solado por Peter Donohoe, regido por John Neschling.

- Dezembro: Neschling conduz a “Sinfonia No. 9” de Beethoven e a estréia mundial de “Crase”, de Flo Menezes.

Theatro Municipal de São Paulo

- Abril: “Erich Korngold - 50 anos de morte”, com a Orquestra Experimental de Repertório (OER) regida por Jamil Maluf.

- Maio: “Jean Sibelius - 50 anos de morte”, com a OER regida por Lígia Amadio e solos da violinista Liza Ferschtman.

- Junho: Concerto com obras de Villa-Lobos e Kilar Wojciech, com a Orquestra Sinfônica Municipal (OSM) regida por José Maria Florêncio.

- Junho: “Sinfonia dos Salmos”, de Stravínski, e “Stabat Mater”, de Rossini, com a OSM regida por José Maria Florêncio.

Banda Sinfôncia do Estado de São Paulo (BSESP)

- Maio: sob a regência de Ira Levin, o grupo acompanha a violinista búlgara Eugenia Maria Popova no famoso “Concerto” de Tchaikóvski.

- Junho: “Shakespeare”, espetáculo cênico-musical que contará com ator Celso Frateschi, acompanho pela BSESP sob a regência do espanhol Rafael Sanz-Espert.

- Novembro: o grupo estréia o “Concertino” de Mehmari, com solos do pianista Ricardo Castro, sob a regência de Abel Rocha.

Ópera:

XI Festival Amazonas de Ópera (Manaus, de abril a maio)

- “O Holandês Voador” (ou “O Navio Fantasma”), de Wagner, regido por Luiz Fernando Malheiro, com direção de Christoph Schlingensieff.

- “Lady Macbeth do Distrito de Mtzensk”, de Shostakóvitch, regido por Luiz Fernando Malheiro, com direção de Caetano Vilela.

- “Poranbuda”, de Villani-Côrtes, regido por Marcelo de Jesus, com direção de Francisco Frias.

- Gala Lírica com a soprano italiana Nuccia Focile, acompanhada pela Amazonas Filarmônica sob a regência de Luiz Fernando Malheiro.

I Festival Internacional de Ópera da Amazônia (Belém, de julho a setembro)

- “O Guarany”, de Carlos Gomes.

- “L'elisir d'amore”, de Donizetti.

- “La Cenerentola”, de Rossini.

São Paulo

- Junho: “A Italiana em Argel”, de Rossini, com a OER regida por Jamil Maluf, com direção cênica de Hugo Possolo.

- Setembro: “Elektra”, de Strauss (versão concerto), com a OSESP regida por John Neschling.

- Setembro: “A Voz Humana”, de Poulenc, com a Banda Sinfônica do Estado de São Paulo regida por Abel Rocha.

Rio de Janeiro

- Julho: “L’Orfeo”, de Monteverdi.

- Outubro: “A Dama de Espadas”, de Tchaikóvski.

- Novembro: “Carmen”, de Bizet.

Série de assinaturas:

Mozarteum Brasileiro

- Maio: NDR Big Band, com apresentações em São Paulo, Santos, Ribeirão Preto, Rio de Janeiro, Blumenau e Salvador.

- Junho: Tokyo String Quartett (apenas em São Paulo).

- Setembro: Orquestra Sinfônica de Euskadi, sob a regência de Gilbert Varga, com apresentações em São Paulo, Rio de Janeiro e Blumenau.

Dell’Arte (Rio de Janeiro)

- Julho: Coro e orquestra do Teatro Colón de Buenos Aires.

- Setembro: Orquestra de Veneza.

- Agosto: Gustav Mahler Jüngend Orchester.

Cultura Artística (São Paulo)

- Abril: Budapest Festival Orchestra, regida por Iván Fischer.

- Junho: Yo-Yo Ma (violoncelo) e Kathryn Stott (piano).

- Novembro: Orquestra de Varsóvia, regida por Antoni Wit e solos do violoncelista Antonio Meneses.

Festivais de música

38º. Festival de Inverno de Campos do Jordão (SP):

- Julho: sob a direção de Roberto Minczuk o mais tradicional do país terá a mulher como temática para este ano. Várias musicistas (instrumentistas, cantoras e maestrinas) estão previstas em sua programação, além de ser uma rara oportunidade de conferir composições criadas por diversas mulheres ao longo da história da música.

17º. Festival Internacional de Música Colonial Brasileira e Música Antiga (MG):

- Julho: sob a direção de Luís Otávio Santos – um dos maiores especialistas brasileiros de música antiga – para este ano o evento dará continuidade na exploração do repertório do Classicismo que marcou a edição anterior, executando obras de Haydn e do brasileiro José Maurício Nunes Garcia.

[Publicado originalmente na Gazeta Mercantil. Versão sem cortes, sem edição, sem revisão!!!]

7 comentários:

Anônimo disse...

bacana, dá até pra imprimir e usar como base. beijos, pedrita

Anônimo disse...

Muito bacana!!eu já imprimi o meu e vou usar como guia!!Mas a Banda Sinfonia de SP num vai tocar o concerto de Shostakovitch, com solo da violinista Popova ao invês do concerto de Tchaikóvski???no programa está escrito Shostakovitch!!mudaram??
valew....

Leonardo Martinelli disse...

Caro beiço,
No site da Banda está anunciado mesmo o concerto de Tchaikóvski. Dê uma olhadinha: http://www.bandasinfonica.org.br/v1a/assi07.htm

sheila maceira disse...

Carmen! Yupi! Vou ser "obrigada" a ir para o Rio (rs)... :)

Anônimo disse...

Muito legal esta programação. Obrigado!

Anônimo disse...

Parabéns pelo blog! Gostaria de acrescentar um espetáculo na programação maravilhosa que vc preparou. Vamos lá:

BANDA SINFÔNICA E CISNE NEGRO NO AUDITÓRIO IBIRAPUERA

A Banda Sinfônica do Estado de São Paulo e a Cisne Negro Cia. de Dança se apresentam no Auditório Ibirapuera nos dias 31 de agosto, 01 e 02 de setembro com o espetáculo “Atmosferas” que conta com duas coreografias: Atmosferas, de Dany Bittencourt e música de André Mehmari (compositor residente da Banda Sinfônica); e Danses Concertantes, de Mark Baldwin interpretando a obra de Stravinsky. A regência fica a cargo do maestro Abel Rocha, diretor artístico e regente titular da Banda Sinfônica.

A música de André Mehmari e a coreografia de Dany Bittencourt foram criados especialmente para a Banda Sinfônica para o encerramento da temporada 2006, o espetáculo Atmosferas é agora apresentado no Auditório Ibirapuera com nova cenografia, e dá ao público a oportunidade de rever um dos grandes sucessos do último ano.

Dias: 31, 01 e 02 de Agosto de 2007
Horário: Sexta, 21h - Sábado, 20h30 - Domingo, 18h
Duração: 60 minutos (aproximadamente)
Ingresso: R$ 30,00 e R$ 15,00 (meia-entrada)
Gênero: Dança Contemporânea/Música Erudita
Classificação Indicativa: Livre

Anônimo disse...

Opa , pessoal so to passando por aqui pra da um toque que nesse fim de semana(16,17 e18 de novembro) no auditorio ibirapuera André Mehmari e Hamilton de Holanda no projeto Conínua Amizade,vão se apresentar
da uma olhada no site www.auditorioibirapuera.com.br
la tem uns videos e melhores informações sobre o show
Abraços Fabricio