15 novembro 2005

Rio de Janeiro e a XVI Bienal de Música Brasileira Contemporânea

Impressões de um visitante tardio

Encerrou-se no último domingo, 13 de novembro, mais uma edição da Bienal de Música Brasileira Contemporânea, no Rio de Janeiro. Patrocinada e organizada pela Funarte, há 30 anos o evento é, ao lado do Festival Música Nova, um dos mais importantes gênero. Mas diferentemente do evento paulista, a Bienal é inteiramente dedicada à música moderna brasileira.

Na posição de compositor, viajei a convite da organização para ter o prazer de ouvir minha peça Itinerário, para clarinete solo, tocada pelo grande Paulo Sérgio Santos no encerramento do evento. Ouvir peças antigas é sempre estranho, ainda mais para um compositor como eu, que tende a tratar sua prole como verdadeiros bastardos. Mas foi uma experiência mais do que gratificante reencontrar este velho filho por meio da musicalidade de Paulo Sérgio . Danke schön, herr Santos!

Há muitas coisas a se falar da Bienal e o que colocarei em seguida são, como bem aponta o subtítulo deste post, apenas algumas "impressões de um visitante tardio", que chegou ao Rio numa ensolarada tarde primaveril e que voltou como sempre volta desta cidade maravilhosa, isto é, ansioso pela próxima vez. Mas vamos às impressões.

- A pluralidade estilística continua sendo a mais evidente característica de nossa música contemporânea, e a bienal, um lugar onde todos os "ismos" (nacionalismos, serialismos, etc.) se encontram de forma bastante amistosa.

- O público foi eclético, alegre e descontraído. Os assobios em homenagem à bela mestre-de-cerimônias já virou uma tradição. Sala Cecília Meireles com a platéia bem cheia e mesmo algumas pessoas na platéia superior. Quem ainda diz que música contemporânea não atrai público, mesmo num evento pago e num dia que "deu praia"?

- Dentro do que me foi perceptível, a organização do evento foi bastante competente, selecionando obras de compositores das mais variadas faixas etárias, dos mais diferentes estilos e das mais diferentes regiões do país (incluíndo aqueles radicados no exterior, que não são poucos).

- No libreto deste ano a Bienal compilou o nome de todos os compositores que passaram por ela e em quantas vezes eles participaram do evento. No total, foram 306 compositores. Os campeões de aparições são Murilo Santos, Mário Ficarelli e Ricardo Tacuchian participaram, nada mais nada menos, de TODAS as dezesseis bienais.

- Nem todos os nomes listados continuam a compor, e alguns podemos nos perguntar como foram parar lá, tendo em vista que a proposta do evento é apresentar obras de compositores vivos (ao menos de uns tempos pra cá). Eis algumas aparições curiosas ao longo da história do evento: os compositores "românticos" Alberto Nepomuceno e Frutuoso Viana, o violonista Sérgio Assad, o musicólogo Olivier Toni e os regentes Daniel Havens (ex Banda Sinfônica do Estado de São Paulo), Aylton Escobar (que sim teve uma importante carreira de compositor) e, vejam só, Jamil Maluf, da OER e do Theatro Municipal de São Paulo.

- Impressão pessoal porém compartilhada por outras "testemunhas auriculares" presentes nos outros concertos: as peças foram bem executadas e muitos compositores saíram satisfeitíssimos com as interpretações.

- Mas a vida não é uma mar de rosas, e eis algumas sugestões de quem está reclamando de barriga cheia: > criar eventos paralelos aos concertos (mesas-redondas, workshops, etc.) > fomentar a interação direta entre público-músicos-compositores, aproveitando a infra-estrutura inerente ao evento > edição e difusão do material desta e das demais bienais em CD ou em arquivos públicos via internet.

De resto, fica a expectativa para a próxima Bienal e de outros eventos do gênero.

Post scriptum: hoje, quarta-feira, a OSB, sob a regência de Roberto Minczuk, vai tocar as "Quatro últimas canções" de Strauss, com a voz de Rosana Lamosa. Faltou tempo e dinheiro pra alongar minha estada, mas se eu estivesse lá, não ia perder não.

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