26 agosto 2006

Primor vocal em “La Gioconda”

Apresentada em maio deste ano durante o X Festival Amazonas de Ópera, a ópera “La Gioconda”, do italiano Amilcare Ponchielli, estreou sábado passado sua temporada paulistana no Theatro Municipal de São Paulo, tendo o maestro José Maria Florêncio a frente da Orquestra Sinfônica Municipal e do Coral Lírico.

Mais conhecida do grande público pelo seu bailado A Dança das Horas – a partir de seu uso como trilha sonora no filme “Fantasia” de Walt Disney – “La Gioconda” tem muito mais oferecer ao público do que este pequeno interlúdio orquestral que, no fluxo dramático da trama, acaba até por se tornar um corpo estranho em meio a tanta beleza lírica.

Na estréia da ópera, o papel-título ficou a cargo da soprano Eliane Coelho. Um das mais importantes cantoras líricas brasileira em atividade, Coelho está radicada em Viena, e a beleza de sua voz e sua competência musical fazem desta temporada uma oportunidade imperdível de conferir esta grande musicista em ação. Controle de dinâmica, afinação e expressividade vocal são apenas algumas de suas qualidades que poderão ser conferidas hoje e domingo.

Porém, não é apenas por Coelho que “La Gioconda” merece ser vista. Como um todo, o elenco – que contou com nomes como Lício Bruno (Barnaba), Regina Elena Mesquita (a Cega) e tenor búlgaro Kaludi Kaludow – garantiu a fluidez musical e cênica do espetáculo, que teve o dueto de Coelho com a meio-soprano Denise de Freitas (Laura) como um dos grandes momentos desta montagem.

Apesar não exigir grandes movimentações, a direção cênica de Alejandro Chacón garantiu a fluidez necessária a este longo espetáculo que entre somando-se música e intervalos totaliza quatro horas de duração. Se as vozes do elenco encantam ao ouvidos, por sua vez, os belos cenários de Marcos Flaksman, eficientemente iluminados por Caetano Vilela, saltam à vista do conjunto visual, completado pelos figurinos de Adán Martinez.

Se musicalmente a Dança das horas é apenas um inocente ornamento perdido em meio a um espetáculo lírico, a coreografia que o Balé da Cidade de São Paulo preparou torna-o completamente dispensável. Mas ainda bem o plural da palavra “hora” é utilizado apenas no sentido figurativo neste belo espetáculo que se sustenta por suas qualidades intrinsecamente musicais.

Nenhum comentário: