Levadas ao palco pelo Núcleo de Música Antiga da ECA-USP, e mais recentemente pelo Coral Paulistano, ambas versões assemelham-se pelo suposto resgate do texto original, cada qual à sua maneira e com níveis de competência musical abissais.
O “Orfeo” da USP não propôs espetáculo operístico, mas sim um “estúdio” acadêmico no qual a ausência de apelo cênico seria compensada pelo trabalho musical, que incluía uma série de instrumentos construídos segundo os padrões do século XVII. Entretanto, o que se ouviu foi um elenco vocal mal ensaiado e de qualidade duvidosa em descompasso com um conjunto instrumental que ainda tateava com instrumentos e técnicas pouco familiares.
Já a montagem do Coral Paulistano, sob a regência de Mara Campos, reservou bons momentos musicais, com um elenco solista competente do qual destacaram-se as sopranos Edna D’Oliveira e Rosemeire Moreira. A cargo do papel-título, Luciano Botelho desempenhou sua parte com modesta regularidade. Porém, na ária Possente spirto o tenor não conseguiu superar a intrincada ornamentação prevista para este momento mágico da ópera. O grande destaque desta montagem fica mesmo para a bela cenografia de Naum Alves de Souza e a interessante direção de João Malatian.
Entretanto, o problema comum às duas montagens foi a ausência de um trabalho realmente cuidadoso no plano da instrumentação e da ornamentação. Como a partitura original não subsidia o músico atual das informações necessárias, “recompor” a trama instrumental é algo de suma importância para qualquer montagem desta ópera. A ausência de um orquestrador na ficha técnica destes espetáculos é um indicador de que – guardada as devidas proporções – o discurso musical foi não realizado da forma necessária e que as importantes ornamentações, quando presentes, foram realizadas de forma apenas trivial.
[Publicado originalmente na Gazeta Mercantil. Versão sem cortes, sem edição, sem revisão!]
2 comentários:
crítica superficial que demonstra que o autor nao tem familiaridade com a interpretacao historicamente orientada
Monteverdi com orquestrador?
Ora, poupe-me!
Sobre o comentário anterior, creio que uma boa resposta é dada por Nikolaus Harnoncourt no livro "O Diálogo Musical: Monteverdi, Bach e Mozart" (Jorge Zahar Editor), em especial os capítulos "Monteverdi hoje" (pp. 31-32) e "Obra e arranjo: o papel dos instrumentos" (pp. 33-39). Faço as palavras dele as minhas.
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